Paula Moura
Padrão Suzette. Água descansada com carvão de bambu e um equipamento para cada chá
Suzette Hammond descobriu um novo universo nas bebidas quentes há sete anos, quando começou a trabalhar no Peet’s Tea & Coffee, uma das casas mais conceituadas de chás e cafés especiais dos Estados Unidos.
Seu início foi como barista, mas hoje, aos 29 anos, seu coração é do chá. "Considero-o parte da minha vida, por onde me expresso artisticamente", diz.
A intimidade com a bebida é tanta que, no último mês, ela ganhou o prêmio de melhor infusionista na primeira edição do campeonato realizado na World Tea Expo 2010. Diz que não é preciso ter um "paladar especial" para ser um provador de chás, e sim ter sentidos bem treinados.
"Se você souber olhar o chá, cheirar as folhas secas e perdoar a si mesmo, caso erre a preparação, você vai melhorar", diz. "Cada xícara, mesmo as que ficaram em infusão tempo demais, ou aquelas em que foram usadas poucas folhas ou água muito quente, vão ensinar algo se você abrir seus sentidos para a experiência."
No campeonato, Suzette teve apenas seis minutos para preparar cada um dos três tipos de chás diferentes, todos especiais e premiados na exposição de 2009. Para cada um, usou equipamentos diferentes.
O chá verde Mao Feng foi feito em um pote de vidro, para monitorar a cor da bebida e a suspensão de folhas na água - a viscosidade era a dica de que estava pronto.
Para preparar o oolong Jade Gold Leaf, Suzette misturou, num bule de cerâmica, um pouco da primeira e da segunda infusão, para conseguir um sabor equilibrado. O último foi o Assam Ditchu, feito da maneira convencional usada pelos degustadores: forte e concentrado.
A infusionista também levou à competição uma "água especial", que descansou por uma noite em pedaços de carvão de bambu, para ficar com equilíbrio mineral natural.
"Se a água tem um gosto natural, será boa para seu chá", explica Suzette. Leia abaixo a entrevista concedida, por e-mail, ao Paladar.
Por que se interessou por chá?
Sempre tomei chá em casa, com minha família. Quando fazia um ano e meio que já trabalhava com café e chá no Peet’s, encontrei produtores de café de fazendas da Costa Rica, Ruanda e Nicarágua. Como a maioria não falava inglês, nossa comunicação foi fazer café e provar o café uns dos outros. Sempre amei café, mas me sentia mais à vontade com chá. E naquele momento percebi que o chá poderia ser um estilo de vida, não só um hobby ou um trabalho temporário. Percebi quanto era importante honrar, com meu trabalho, quem produzia chá e café.
Como preparar um bom chá?
A densidade da folha seca diz qual deve ser a temperatura da água e o tempo de infusão. Nesse processo é necessário prestar atenção ao aroma, esperando o momento exato em que o chá fica pronto. Depois de tomar observo a folha, para ver se o que pensei sobre ela estava correto. O sabor é a peça principal. Então, se você ficar atento à folha, à cor do líquido e ao sabor, começará a entender por que a xícara saiu daquela maneira.
Qual é seu chá favorito?
Não tenho chá favorito. Geralmente prefiro chás com produção refinada, bom aroma e textura. Meus gostos mudam conforme as estações do ano. Às vezes, tenho vontade de tomar um oolong com bastante aroma de manhã. Outras vezes prefiro um chá verde chinês tostado. O mais importante é não guardar seu chá especial para quando houver uma "ocasião especial", e sim fazer com que esses momentos aconteçam. Compartilhe seu chá e aqueça seu coração, vai se sentir muito melhor!
QUEM É
Suzette Hammond
Nascida em Las Vegas, nos Estados Unidos, Suzette Hammond é diretora do conselho do Instituto de Chás Especiais, de Nova York, e coordenadora do Campeonato de Chá Norte-Americano, voltado para produtores. Trabalha como instrutora de preparação de café e de chá no Peet’s Tea & Coffee, em São Francisco.
http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos+paladar,a-infusionista-que-ouve-o-cha,3882,0.shtm
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